Imagine que você está num museu desses bem grandes, tipo o Metropolitan ou Louvre. Você chegou cedo e logo na entrada se impressionou com a quantidade de coisas que tinha pra ver por lá.
Mas entre uma coleção e outra, enquanto tirava fotos imitando estátuas ou prestava atenção nas explicações do guia, você não percebeu que o tempo passou.
O alto-falante acabou de anunciar que eles estão fechando em menos de uma hora, e você não viu nem um quinto do que queria.E vamos imaginar que você nunca mais vai poder voltar ao lugar. O que fazer?
Você se divide entre o impulso de se encolher no canto pra chorar ou sair correndo pra ver o que der num esquema “leitura dinâmica”. Impressionistas ou arte grega? Artefatos egípcios ou medievais? Será que arte moderna vale a pena mesmo, hein?

Isso meus filhos, é a sensação de fazer 30 anos. Ou ao menos de fazer 30 anos quando você não realizou muito do que queria.
É incrível como que, até então, parece que a gente tem todo o tempo do mundo. Que tudo é possível, as reviravoltas mais doidas. Não que 30 seja o fim da vida.Pra mim, que pretendo chegar até os noventa, não é nem metade.
Mas é agora que finalmente fica claro na cabeça que nossa existência é finita, e que um belo dia a Terra vai continuar rodando sem a gente. E que tudo aquilo que a gente sonhava em fazer quando era adolescente pode acabar não acontecendo.
Eu nem ia mencionar a parte física, mas vamos lá. Já reparou que quando as moças completam 30 anos as revistas começam a mencionar a idade nas capas? Pode verificar, lá está fulana super gostosa, madrinha de bateria, tendo “um super corpo aos 30” ou “sendo um modelo de beleza aos 30”.
Porque parece que as meninas de 20 têm uma obrigação moral perante a sociedade de serem bonitas, aí a idade delas não aparece, mas se as de 30 também conseguem, isso vira um feito heroico.
Se fulana for mãe então, é um duplo twist carpado com mortal na segunda pirueta. E supostamente um exemplo pra todas nós trintonas desenganadas.

Mas até que isso nem é o que me incomoda mais, apesar de eu sofrer cada vez que vejo a minha ruga de estimação no canto esquerdo da boca. E me repreender imediatamente, porque se for fazer drama cada vez que uma delas aparecer, nunca mais vou pensar em outra coisa.
O que dói mesmo é aquela situação em que que você tem que responder o que faz da vida, aí eu viro “Eu, Camila F. 30 anos, estudante de graduação sustentada pelo marido”. A imagem do fracasso né?

Acho que fazer 30 envolve um luto pelo fim dos 20 anos. A gente passa a vida acreditando, e vendo nos filmes, e ouvindo das pessoas , que aquele período de tempo entre os 20 e os 29 é a época mais decisiva da nossa vida, a mais feliz, aquela em que tudo acontece.
Pensando direito, a gente vê que isso é um exagero. Ninguém vive igual a ninguém e cada um vai ter seus melhores dias em épocas diferentes. Só é difícil continuar pensando assim quando vários conhecidos no Facebook parecem viver uma vida perfeita e cheia de conquistas desde antes de terem completado 30.
Bem que dizem que o segredo da felicidade é evitar as comparações.
Eu sinto às vezes que não virei adulta de verdade. Nunca consegui parar de roer as unhas, ainda tenho medo de dirigir e nunca assinei um talão de cheques. E ao mesmo tempo, parece que eu vivi tanto, e tenho tantas lembranças, que chega a dar agonia.
Mas no fim das contas, se eu tivesse que escolher entre passar uma tarde inteira com “eu” de 20 ou “eu” de 30, eu ficaria com essa última. A bichinha já tá meio gasta, mas acho que é bem mais divertida.
Não sei como se resolve uma crise dos 30, mas eu acredito nos poderes de uma festa de aniversário “escapista”. O tema da minha foi 1985, o ano em que eu nasci, e que rendeu músicas e fantasias ótimas.
E pensando pelo lado bom, eu ainda vou ter 10 anos pra me preparar pra crise dos 40.

Adorei!! Muito divertido! Beijos!
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Brigada Carol, vamos rir pra não chorar hahahaha 😉
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Muito bom! Mas sempre tem crise, tem a crise dos 20 tb! Acho que só depois dos 60 a gente joga a toalha e pára de frescura.
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Eu tenho crise desde os 17 😀
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